6 de junho de 2008

Xenofobia na terra da hospitalidade?





Pelas notícias veiculadas nos órgãos de informação, tal vez são por todas conhecidas, as manifestações xenófobas, acontecidas em Africa do Sul, a partir do dia 12 de Maio, que afectaram a todos os estrangeiros residentes no país.

Na sequencia dos actos de intolerância, violência e morte, perpetrados por alguns cidadãos sulafricanos, morreram mis de 40 moçambicanos e outros 40.000 viram-se obrigados a regressar ao seu pais compulsivamente, despojados dos seus haveres, carregando apenas o fardo do seu sofrimento material e moral. Estes moçambicanos tinham ido ao país vizinho a procura de trabalho para melhorar as condições de vida de suas famílias. Tanto a ingratidão como o esquecimento, são atitudes recriminadas pelo povo moçambicano, porque é conhecido que o povo sulafricano, na sua luta contra o apartheid, sempre encontrou em Moçambique apoio e solidariedade. Além de que milhares de trabalhadores moçambicanos, nas minas de ouro, deixam a sua saúde e esforço realizando duros trabalhos que outros não querem fazer.

Os Bispos de Moçambique na mensagem emitida por este motivo, intitulada “Não oprimas ao estrangeiro. Jer. 22,5”, fazem uma leitura das causas deste facto: “Tentando compreender a génese desta onda de violência cujo alvo, neste momento, são os imigrantes na Africa do Sul, parece-nos que, entre outras, a situação resulta da degradação da condição social, da distribuição desigual da riqueza, da exploração de mão de obra barata (estrangeira) em detrimento de trabalho e salários justos reivindicados pelos sulafricanos. Por outro lado, a riqueza gerada na Africa do Sul, que não e pequena, parece estar longe de ser distribuída equitativamente por todos. A vida melhor sonhada pelo povo sulafricano, com o fim do Apartheid, não esta sendo ainda uma realidade ”.

Junto com os actos violentos e desde todo ponto de vista reprovável, tem existido também uma reacção solidária e fraterna na mesma RAS. Uma grande manifestação liderada por várias organizações cidadãs, saiu às ruas em Joanesburgo, manifestando seu repúdio. Vozes autorizadas denunciaram igualmente estas atitudes xenófobas, tais como Desmod Tutu, Bispo anglicano, premio Nobel da Paz e o Bispo de Joanesburgo, que fez um apelo urgente para que os estrangeiros vítimas da violência fossem acolhidos nas Igrejas e exortava à comunidade crista para partilhar os bens com eles.
Também tem acontecido que alguns dos moçambicanos regressados, respondiam assim aos jornalistas que os interrogavam na fronteira de entrada: “Consegui sair ileso e cm tempo para levara o mais importante dos meus bens porque a minha vizinha sulafricana, aceitou esconder-me na sua casa e guardar os meus bens”; “Eu tive a sorte de que a policia me escoltasse desde a minha casa ate a estação de comboio com direcção a Maputo”…

Aqui em Moçambique, a reacção do Governo tem sido positiva criando, dentro do possível, as melhores condições da acolhimento e regresso aos lugares de origem dos regressados. Ma a ninguém se oculta que a vulnerável situação social de pobreza absoluta na qual vivemos, não vai ajudar a fazer uma integração desejada por todos mas impossível nesta realidade. Alguns já falam de regressar a RÃS, logo que a situação se normalize.


Nós estamos acompanhando estes acontecimentos, juntamente com todo o povo, experimentando, muitas vezes a indignação e a raiva, e sempre partilhando o sofrimento e a esperança das famílias, abertas a comprometer-nos nas iniciativas que entre todos sejam assumidas como mais oportunas.

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